O Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC TEC) está a desenvolver um algoritmo que visa otimizar a oferta e procura de serviços de car-sharing. O “Smart inter(urban) shared mobility systems” (Siu-SMS) deve ficar concluído em 2021.

Como acontece com as trotinetes elétricas, a partilha de carros está a crescer no mundo. Em 2017, quase oito milhões de pessoas utilizaram serviços deste género e a expectativa é a de que o número cresça cinco vezes até 2025, de acordo com a consultora Frost & Sullivan. Em Portugal, o car-sharing é relativamente novo, com apenas três empresas em Lisboa e uma frota de 400 veículos.

De acordo com Beatriz Brito Oliveira, investigadora do INESC TEC, o crescimento deste modo de transporte depende do lucro das empresas, o qual poderá ser otimizado uma vez que o algoritmo seja lançado.

Estação de car-sharing em Bremen, na Alemanha

O maior problema destacado pelas empresas de car-sharing é o da gestão da frota (da sua dimensão, manutenção e localização). O que o Siu-SMS se propõe fazer é decidir o quanto cobrar por viagem, atendendo a aspetos como o posicionamento da frota e a distribuição geográfica. Assim, ajudaria também os consumidores, ao determinar as localizações que melhor atenderiam as necessidades destes. “O nosso algoritmo pode utilizar a abordagem dinâmica na definição de preços, por forma a reduzir os custos de relocalização de um veículo, isto é, o custo operacional para mudar os veículos dos locais onde são deixados para outras zonas, por forma a equilibrar o sistema de partilha de carros”, explica a professora auxiliar convidada na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), Beatriz Brito Oliveira, ao JPN.

Outra barreira para a entrada de empresas no setor é o grande investimento inicial necessário. Talvez por isso, grande parte das empresas, nos diversos países, que entraram no serviço, são empresas já com presença no rent-a-car. Em Lisboa, por exemplo, uma das empresas de car-sharing está ligada à BMW.

Por parte dos clientes, as barreiras à utilização estão mais relacionadas com o próprio conceito do serviço. Em estudos realizados noutros países, nos quais o car-sharing é mais recorrente, notou-se um receio quanto à partilha de um espaço privado como é o do carro.

Poupança é a principal razão

De acordo com dados do Observador Cetelem divulgados este mês, dos portugueses que utilizam serviços deste género, 58% admite recorrer ao car-sharing para poupar dinheiro. O uso regular do serviço pode diminuir a necessidade de possuir carro próprio e diminuir os danos ambientais, referem também os inquiridos.

Muitos dos clientes dizem também que gostam de poder experimentar diferentes carros, numa lógica quase de test-drive.

No Japão, as empresas de car-sharing têm tido problemas de outro género: há pessoas que contratam o serviço e não chegam a usar o carro para se deslocar, aproveitando o espaço simplesmente para almoçar, como referem algumas notícias.

Apesar do algoritmo estar previsto para ser lançado em 2021, Beatriz Brito Oliveira acredita que o projeto vai dar origem a outras ideias. Acrescenta também que o passo seguinte seria integrar a gestão de frota noutros modelos de transporte, tais como o coletivo de passageiros. O algoritmo tentará entender melhor como as pessoas fazem escolhas e escolhem os percursos.

Além do INESC TEC, à equipa responsável pelo desenvolvimento do algoritmo está também associada a FEUP e a Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUP).

Além de Beatriz Brito Oliveira, estão envolvidos no projeto os investigadores Maria Antónia Carravilla, professora da FEUP, José Fernando Oliveira, professor da FEUP, António Pais Antunes, professor da FCTUP e Masoud Golalikhani, investigador da INESC TEC.

Artigo editado por Filipa Silva