O que é que o levou a interessar-se pelo mundo da investigação espacial?
Desde pequeno fui daqueles que não queria ser bombeiro e queria ser astronauta. Entretanto tirei o curso de Engenharia Mecânica já a pensar um bocadinho nestas coisas do espaço. Depois trabalhei na Agência Espacial Europeia, que também era uma “carolice” que tinha. E desde muito cedo, no meu curso, comecei a cair para este lado do Espaço. É realmente uma paixão que agora está bastante solidificada.

Como é que um português consegue, com as limitações à investigação em Portugal, ingressar num projecto tão ambicioso?
Basicamente, tive alguma iniciativa na construção da proposta e acho que esse facto foi de alguma forma reconhecido pelos meus colegas que apostaram em mim para liderar. Mas a liderança acaba também por ser um pouco secundário.

Quais são as suas expectativas perante este projecto?
Espero que isto contribua de alguma forma para criar no público alguma expectativa relativamente ao espaço, à exploração espacial e que em Portugal também se faz alguma coisa interessante.
Relativamente ao lado científico, há uma equipa muito forte por trás, relativo ao comportamento e da dinâmica de grupos em tripulações de longa duração.
Portanto acho que vai haver um estudo bastante forte nesse sentido e as pessoas que estão por trás deste estudo são muito credíveis a nível mundial.
A nível tecnológico, se calhar não há os chamados “break throughs”, mas vai haver com certeza pequenos passos e contribuições que vamos dar, e iremos contribuir para a exploração do Planeta Vermelho que ainda está a alguns anos daqui, mas que temos de ir preparando.

Que tipo de tecnologias é que irão testar?
O projecto que acho mais interessante será talvez um estudo comparativo entre dois tipos de fatos que teremos lá no deserto – ou em Marte… Um mais parecido com o fato típico dos astronautas, totalmente hermético, e um outro desenvolvido por um colega meu que estará connosco no Utah que consiste num fato que funciona por “contra-pressão mecânica” que será mais parecido com os chamados “fatos secos” dos mergulhadores.
Também teremos um robô desenvolvido em França que servirá para automatizar a procura de terrenos desconhecidos para maximizar a segurança dos astronautas

É algo muito parecido com o Mars Rover da Nasa ou é completamente diferente?
Não, é uma coisa mais móvel. O Rover destina-se mais à pesquisa do terreno em termos biológicos e de amostras. Este pretende ser os olhos que vão à nossa frente. Por exemplo, se houver um precipício, deve avisar-nos desse perigo.

É um robô totalmente autónomo ou será comandado à distância?
Tem as duas vertentes.

Acha que virá a ser possível um dia o Homem vir a colonizar Marte?
Eu acho que vai ser possível… Agora tenho algumas reservas de quantos anos faltarão. Acho que nós temos vindo a assistir a um decréscimo do investimento na área espacial. Não estamos nem de perto nem de longe no auge da Guerra Fria, por exemplo, de quando o homem chegou à lua.
Eu gostaria que até 2030 conseguíssemos, mas tenho algumas dúvidas…

Soube que o seu maior sonho era tornar-se astronauta. Com este projecto está mais próximo de o realizar…
Eu gostava muito! Mas o meu sonho não era ir a Marte porque esse seria um projecto de longa duração. A missão nunca duraria menos do que um ano e meio a três anos. Gostava de fazer uma missão à Estação Internacional e ficar por aí.

Que mensagem gostaria de deixar a todos os jovens que com uma idade muito próxima da sua querem enveredar pelo mundo da investigação espacial?
Sonhar e lutar pelo sonho… Ouvimos sempre esta história de que em Portugal é complicado e que não se faz nada. Se calhar é bom ir lá para fora e aprender alguma coisa e não esquecer que somos portugueses. Aprender lá fora mas voltar para desenvolver cá dentro.

Hugo Manuel Correia