“As pessoas sentem receio” – eis uma opinião partilhada pelos comerciantes de carne do Porto ouvidos pelo JPN. Desde a divulgação das últimas notícias sobre a gripe das aves e, sobretudo, dos números confirmados domingo pela Direcção-Geral de Saúde (obtidos a partir de um estudo referente ao pior cenário estudado no caso de uma pandemia), as vendas de carne de aves têm diminuído.

Justino Pereira, do Talho do Campo 24 de Agosto, não hesita em atribuir responsabilidades à comunicação social, que acusa de estar a empolar a questão da gripe das aves. “A comunicação social é que está a fazer o desastre. Ainda não há morto, e já estão a fazer o funeral! [A gripe das aves] Ainda não chegou cá e já estão a falar em mortos”, diz.

O talhante confessa que continua a comer carne de aves (também conhecida por carne branca). “Na crise da BSE [doença das vacas loucas] também não deixei de comer carne de vaca. Na altura, quem estava contaminado, estava. Na hora em que se falou, podia-se comer à vontade”, afirma.

Alda Santos está longe de ser consumidora assídua de frango ou perú, mas é categórica: “se precisar, vou comprar. Não tenho medo”. Já Vítor Barbosa, consumidor habitual de carne de aves, prefere não arriscar: “enquanto isto [a gripe das aves] durar, vou deixar de comer”.

Vendas em queda

Justino Pereira refere que as vendas “estão a diminuir e ela [a gripe das aves] ainda não chegou cá”. Neste momento, o prejuízo “já atingiu os 50%, desde o início da semana”. Discurso idêntico têm Francisco Batista, dos Talhos Boavista: “as vendas já estão a diminuir”. E acrescenta que prevê “muito prejuízos”.

“No perú não se nota tanto, mas no frango nota-se muito”, sublinha o comerciante do Talho do Campo 24 de Agosto, que avança uma explicação possível: “as pessoas associam a gripe das aves mais ao frango”.

A opinião é partilhada por Paula Alves, do Talhos da Boavista, que arrisca uma justificação: “as pessoas só têm noção do frango, que é o que aparece na televisão. Mas não é só o frango que é afectado. Também há o perú…”.

Vítor Moutinho, do Talho do Padrão, refere que, “desde que saíram as últimas notícias”, nota um “decréscimo, principalmente desde ontem [segunda-feira]”. “Hoje, os frangos têm-se vendido menos. Nota-se um decréscimo forte no perú e no frango”, diz. Os clientes habituais que consumiam regularmente carne de ave “já não compram”. “Tenho falado com outros colegas que também estão estabelecidos e é a mesma coisa”, lamenta.

Este comerciante acredita que a tendência vai acentuar-se à medida que forem surgindo mais notícias. Para fazer face ao prejuízo que já se sente, pondera reduzir o fornecimento de carne de aves. “Comprava-se 500 quilogramas de frango, e é capaz de se passar para os 200, que é menos de metade”, admite.

Restaurantes queixam-se menos

Quem parece não sair tão prejudicado com a gripe das aves são os restaurantes e churrasqueiras. Um responsável do Restaurante Abadia, no Porto, garantiu ao JPN que “o frango e o perú estão a sair bem”.

Cenário idêntico é traçado por Olinda Borges, da Central Churrasco, em São Mamede Infesta, que refere que “para já” não regista quebras nas vendas de pratos à base de carne de aves.

Apesar de frisar que “não deixa de ser preocupante”, um dos responsáveis pela Churrasqueira do Padrão, no Porto, refere que não tem notado, “por enquanto”, qualquer diminuição na venda de frangos.

Ana Correia Costa
c/ Luís Florindo
Foto: Ana Correia Costa