O Irão vai avançar para o enriquecimento de urânio a larga escala, passando das actuais 164 centrifugadoras para 54 mil na central de Natanz. A garantia foi dada pelo responsável máximo pelo nuclear, Mohammad Saeedi, hoje, quarta-feira, à estação pública de televisão iraniana. “Vamos expandir o enriquecimento de urânio a uma escala industrial em Natanz”, assegurou.

O anúncio foi feito no dia em que o director-geral da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), Mohamed ElBaradei, viaja para o Irão para tentar resolver o impasse que opõe o país aos países ocidentais.

A coincidência temporal pode ser entendida como um aviso de Teerão ao Conselho de Segurança das Nações Unidas, que exigiu a suspensão do programa nuclear iraniano devido às suspeitas de que este tem fins bélicos. O país já rejeitou esta suspeita por diversas vezes, garantindo que o enriquecimento de urânio tem como único objectivo a produção de electricidade, o que é permitido pelo Tratado de Não-Proliferação Nuclear.

O Irão informou a AIEA que planeia instalar três mil centrifugadoras em Natanz até ao fim de 2006, para depois aumentar esse número para 54 mil, sem afirmar dentro de que horizonte temporal isso será feito.

O presidente Mahmoud Ahmadinejad afirmou ontem que o sucesso no enriquecimento de urânio, avisando o Ocidente que forçar o Irão a abandonar o nuclear causará “um ódio eterno no coração dos iranianos”.

Nas reacções, a Rússia e a China, que até ao momento não apoiam a possibilidade de aplicação de sanções pelo Conselho de Segurança, criticaram a opção iraniana. O ministro dos Negócios Estrangeiros russo afirmou que foi dado um “passo na direcção errada”. O embaixador chinês nas Nações Unidas, Wand Guangya, considerou que o enriquecimento de urânio não está “em conformidade com o que lhes foi exigido [ao Irão] pela comunidade internacional”.

Teerão retomou o enriquecimento de urânio na central de Natanz em Fevereiro. O processo é essencial tanto para gerar electricidade pela via nuclear como para construir armas atómicas.

A AIEA deve levar o Irão ao Conselho de Segurança, a 28 de Abril. Os Estados Unidos e a União Europeia querem que o país seja sancionado economicamente, mas a Rússia e a China têm-se oposto a essa solução.

Pedro Rios
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