O Presidente italiano, Giorgio Napolitano (na foto), começou esta quinta-feira a fazer consultas políticas para decidir o destino político do país. Romano Prodi pediu quarta-feira a demissão do cargo de primeiro-ministro, na sequência de uma derrota no Senado.

O cenário mais referido na imprensa italiana e internacional é a continuação de Prodi à frente do cargo. Segundo a BBC, uma nova coligação liderada por Prodi deve incluir os democratas-cristãos, até aqui na oposição, e assumir um perfil tecnocrata, para assegurar a realização de medidas nas pensões de reforma e no orçamento de Estado do próximo ano.

Se não for encontrado um acordo, Giorgio Napolitano pode convocar eleições antecipadas, nove meses depois da tomada de posse da coligação de centro-esquerda liderada por Prodi.

Este cenário é defendido por Joseph LaPalombara, professor de Ciência Política da Universidade de Yale nos EUA e especialista em política italiana. Em declarações, por e-mail, ao JPN, defende que a “recondução de Prodi como primeiro-ministro” “não resolveria o problema e podia mesmo intensificá-lo”.

“Este é um momento muito difícil e delicado para o Presidente Napolitano, que tem uma grande experiência e é um líder político sensato”, afirma.

Fim da coligação previsível

“O presidente, com a aprovação dos maiores partidos da coligação, nomeadamente o [centrista] Margherita e a Democracia de Esquerda [ex-comunista, maior partido da coligação], fazia bem em dissolver o parlamento e provocar novas eleições”, aponta LaPalombara, que é também editor da revista “Italy Italy”.

Nomeia quatro motivos para novas eleições: o centro-direita está “relativamente frágil e desorganizado”; a “economia italiana está em boa forma”; “o eleitorado italiano está, neste momento, algo cansado dos truques dos pequenos partidos”; e há uma “boa possibilidade” de que “novas eleições reforcem a maioria do centro-esquerda no Senado, que é hoje perigosamente magra”.

Já em Abril, após a vitória do primeiro-ministro nas eleições, LaPalombara apontava ao JPN que seria “um milagre se Prodi conseguir governar o país de todo, antes que seja, uma vez mais, ‘dinamitado’ pelos seus próprios apoiantes”.

Nove meses depois, o professor de Yale reitera que o fracasso do Executivo era previsível, mas recorda que os 281 dias de vida da coligação estão dentro da “média” italiana. O país está habituado a governos de curta duração.

“A lei actual deve ser, o mais rapidamente possível, atirada para o caixote do lixo da história, e a Itália deve adoptar, como alguns analistas recomendam há muito tempo, algo próximo do sistema francês”, defende.

A alteração não é fácil, visto que, “segundo as regras actuais, a lei eleitoral não é alterável sem o apoio dos pequenos partidos”, que não estão dispostos a “assinar a sua própria sentença de morte”.

Pedro Rios
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