Em 2006, a superfície cultivada de cereais em Portugal diminuiu face ao ano anterior, contudo a produção aumentou relativamente a 2005, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE).

Luís Vasconcellos e Sousa, presidente da Associação Nacional de Produtores de Milho e Sorgo (ANPROMIS), afirmou ao JPN que a diminuição das plantações, nomeadamente do milho, se deve “sobretudo às alterações ambientais e à falta de água, em especial no interior”. O presidente da ANPROMIS disse também que a procura de milho está a diminuir, “o que é um factor preocupante para os produtores deste cereal”.

Luís Vasconcellos afirmou que “Portugal tem condições para produzir mais cereais”. “Estes produtos estão a tornar-se bens escassos devido à grande pressão do lado da procura a nível mundial”, referiu.

Em Portugal, o aumento dos preços dos cereais tem-se vindo a sentir sobretudo no pão. Os aumentos, anunciados pela Associação do Comércio e da Indústria de Panificação, Pastelaria e Similares (ACIP), no final de Fevereiro, do preço do pão deveram-se ao aumento do preço do trigo, matéria-prima principal utilizada no fabrico deste alimento.

“Importamos três quartos dos cereais que consumimos”

Segundo dados divulgados pelo INE, entre 2005 e 2006, Portugal importou cerca de quatro milhões de toneladas de cereais e exportou cerca de 400 mil toneladas. No mesmo período, a produção utilizável de cereais – quantidade disponível para a eventual utilização dentro e fora da agricultura – diminuiu para 675 mil toneladas.

Bernardo Albino, presidente da Associação Nacional de Produtores de Cereais (ANPOC) afirmou ao JPN que Portugal ainda está longe de ser auto-suficiente no que toca à produção cerealífera. “Importamos três quartos dos cereais que consumimos. 25% é produzido, o que corresponde a um milhão de toneladas. E nós consumimos cerca de quatro milhões”, acrescentou.

“Factores de produção aumentaram entre 80 e 150% nos últimos anos”

Hoje fica mais caro produzir. O presidente da ANPOC explica que o aumento dos factores de produção, entre os 80 e os 150%, é consequência “dos aumentos dos combustíveis, necessários para os transportes agrícolas”.

A crise mundial dos cereais faz-se sentir, particularmente, nos preços de venda ao consumidor em Portugal. “Hoje, uma tonelada de trigo custa entre 260 e 280 euros. Em três anos o preço subiu 100 euros”, disse Bernardo Albino.

Os aumentos sucessivos dos cereais, actualmente, são para o presidente da ANPOC uma “consequência da regulação do mercado e da liberalização do comércio”. “Os cereais já foram mais caros na década de 90”, acrescentou. Os cereais mais produzidos em Portugal são o milho e o trigo. O Alentejo é o maior produtor de trigo.

Porque subiram os preços dos cereais?

O aumento de preços dos combustíveis, as alterações climáticas, a redução dos stocks em 5% para o nível mais baixo desde 1982, nomeadamente de cereais, associados a um aumento da procura de produtos agrícolas pelas duas economias emergentes do continente asiático, China e Índia, são os principais motivos que provocaram a escalada de preços dos alimentos no mercado global desde meados de 2007, citados no relatório “Fighting food inflation through sustainable investment” (em PDF), da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) e do EBRD (em inglês, no original) – Banco Europeu para a Reconstrução e Desenvolvimento.

O índice de preços dos alimentos, segundo a FAO, subiu 23% em 2007 em comparação com o ano anterior. Em 2006, os aumentos tinham sido de 9% em relação a 2005. Em Dezembro de 2007, os preços já tinham aumentado 40% em relação ao período homólogo.

Pressão sobre os preços deverá manter-se mais dois anos

As previsões do Deutsche Bank apontam para uma pressão que se vai manter sobre os preços nos próximos dois anos. O trigo deverá subir o seu pico de valorização potencial em Março de 2009, enquanto o milho alcançará a sua valorização máxima em meados do mesmo ano.

A FAO e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico vão mais longe dizendo que os preços se vão manter acima do normal nos próximos dez anos.(“OECD-FAO Agricultural Outlook 2007-2016”, em PDF).