Entre coreógrafos e programadores, a opinião é unânime: faltam espectáculos de dança contemporânea no Porto. A concessão do Teatro Rivoli a Filipe La Féria é uma das razões fulcrais apontadas por todos. O teatro apostava numa programação regular de dança contemporânea e trouxe ao Porto nomes de referência internacionais, como Merce Cunningham, William Forsythe ou Trisha Brown.

As infra-estruturas e o conforto financeiro permitiam ao Rivoli ser uma montra para as criações dos coreógrafos nacionais e pôr o Porto na rota de passagem das grandes companhias de dança contemporânea.

“Era o espaço que melhores condições tinha para a apresentação de dança contemporânea. Não existe uma sala com aquelas características na cidade. Voltamos um pouco atrás, como quando era preciso ir a Lisboa ver os grandes espectáculos”, diz Isabel Alves Costa, antiga directora da instituição.

Independentes resistem

Existe no Porto um tecido de projectos independentes que se afirmam como espaços alternativos para a criação e divulgação da dança contemporânea. O Balleteatro, o Núcleo de Experimentação Coreográfica (NEC) e a Fábrica de Movimentos são algumas das iniciativas que trabalham na formação de novos artistas e de públicos, através de aulas, conferências, ateliês, residências e apresentação de trabalhos.

O circuito de apresentações sofre da falta de apoio financeiro da Câmara do Porto. “Existe vontade, iniciativas, não temos é um orçamento que nos permita investir tanto quanto queríamos na programação de dança contemporânea”, afirma Né Barros, coreógrafa e fundadora do Balleteatro.

Alberto Magno, programador da Fábrica de Movimentos, considera que a dança contemporânea “só se mantém no Porto graças ao apoio directo do Ministério da Cultura ou à insistência dos artistas, porque não há apoio autárquico”.

Falta de apoio do executivo de Rui Rio

No decorrer dos anos 90 até ao Porto 2001, o discurso autárquico assumia uma direcção diferente, refere Paulo Vasques, da direcção do NEC. O investimento da câmara na arte contemporânea funcionou como motor de oferta de uma programação “cada vez mais regular e abrangente”. O Porto 2001 representou o ponto alto desta atitude: “O Porto nunca conheceu uma dinâmica cultural tão especial, nomeadamente na área da dança contemporânea”.

As condições favoráveis possibilitaram o florescer de projectos como as Jornadas de Arte Contemporânea e “um trabalho de apresentação e de divulgação forte dinamizado pelo Balleteatro, pelo NEC e por Serralves”, explica Paulo Vasques. “Em 1999, 2000, 2001, tivemos [o Balleteatro] orçamento para trazer nomes como Jérôme Bel, Mathilde Monnier, nomes internacionalmente reconhecidos na dança contemporânea estiveram no Porto pela primeira vez pelo Balleteatro”, diz Né Barros.

Paulo Vasques detecta um virar de costas do executivo de Rui Rio “às políticas culturais”. “As estruturas do Porto, como o NEC, deixaram de contar com o apoio autárquico. Vive-se uma situação angustiante, porque é uma rejeição do trabalho que fazemos”, diz. O JPN contactou a Câmara do Porto e o Rivoli várias vezes, mas não obteve qualquer resposta.

Estes projectos independentes enfrentam não só a barreira económica, mas também a falta de meios logísticos para promover contextos de apresentação da dança contemporânea. “Temos de ter obrigatoriamente colaboradores para podermos apresentar a nossa programação”, esclarece Alberto Magno.

O Festival Fábrica, cuja 11ª edição decorrerá em 2009, por exemplo, é dividido entre espaços como o Teatro Helena Sá e Costa, o Maus Hábitos e o Espaço 555.