Qual é o balanço das três eleições em que houve coligação? A vossa representação ficou valorizada como partido?

Muitíssimo. Dentro do partido e da JP há quem seja contra as coligações, mas o Porto é um exemplo onde as coisas funcionam muito bem e onde os dois partidos se têm sabido respeitar e têm trabalhado em conjunto no terreno. Nós temos conseguido ter nas juntas de freguesia esse trabalho de proximidade.

O facto de termos conseguido ganhar o segundo mandato alimentou mais o reconhecimento de que as coisas estavam a ser bem feitas. Estive na Junta de Freguesia de Paranhos nos últimos quatro anos e tive a oportunidade de acompanhar tantas coisas que uma junta de freguesia pode fazer bem, sobretudo no apoio social. É na proximidade que se tem com as pessoas que se consegue fazer aquilo que pode parecer simples, mas é complicado e determinante para a qualidade de vida das pessoas. Estar num junta de freguesia permite-nos ter uma noção da realidade completamente distinta. Ali, sentimos que cada orçamento e cada verba disponibilizada era empregue e muito bem empregue.

Entrevista:

Vera Rodrigues – “No Porto, a coligação PSD/CDS-PP funciona muito bem”
“A Baixa está a ficar na moda”
“A descentralização é a solução para terminar com gastos absurdos”

Como agora se diz que os jovens estão cada vez mais afastados da política, como está a Juventude Popular (JP) do Porto em termos de popularidade?

Eu diria que nós estamos num momento de contraciclo. Quer queiramos quer não, a realidade recente tem trazido algumas mudanças e algumas novidades que têm mexido efectivamente com a consciência dos jovens, que é cada vez mais crítica e informada. Isso faz com que muitas vezes a sua própria ânsia de participação e manifestação, seja de que forma for, possa acontecer. Não concordamos de todo que os jovens estejam alheados da política – estão cada vez mais envolvidos noutras formas de associação, estão cada vez mais críticos.

Tenho dificuldade em aceitar que estão mais afastados porque o sinal que nós temos tem sido contrário. Temos estado a crescer bastante em termos de estruturas e de implementação, mas temos, nalguns casos, alguma dificuldade de comunicação. O verdadeiro poder do bloco central limita e condiciona muito aquilo a que se chama muitas vezes de liberdade. Fala-se na revolução, fala-se nas conquistas de Abril, mas ainda há muita limitação à liberdade. Nós temos inúmeros casos de pessoas que não se unem à JP ou ao CDS porque têm receio de perder o emprego na junta de freguesia ou na câmara ou no organismo público a que possam estar ligados.

O CDS e a JP sofrem de um mal. Há um conjunto de mitos que, de todo, correspondem à realidade. Que nós somos o “partido dos ricos”, dos “betos da Foz”, e não é verdade. É uma ideia completamente errada que tentamos despir. Nós temos militantes que vivem em bairros sociais, como temos militantes que vivem na Foz. O Porto e o distrito e o país são muito diversos. É um estereótipo que não faz sentido.

Mas não lhe parece que posições como ser contra a lei actual do aborto ou contestar algumas medidas de reposição de igualdades em relação aos homossexuais são um pouco anacrónicas e se calhar contribuem para alimentar esse mito?

Não, é preciso que não misturemos as coisas. É evidente que o partido terá uma ideologia que podemos considerar dominante ou não, mas se eu lhe disser que dentro da JP há pessoas a favor do aborto ou a favor do casamento homossexual provavelmente não acredita, mas é verdade. O partido tem uma forma de pensar que defende, mas isso não se deve confundir e pensar que, a partir daí, todas as pessoas que estão dentro do CDS ou da JP pensam exactamente da mesma forma.

“Os jovens não estão alheados da política”

Eu não acho bem, nem acho mal, que o PS ou o PSD defendam posição A ou B. Se eles a defendem, devem ter alguma coerência, algum princípio que os leva a isso. O que me preocupa é o que a JP e o CDS defendem. Nesta lógica assumimo-nos como um partido mais conservador, mas isso não tem de fazer de nós os aliens que não têm noção daquilo que se passa na realidade e tão pouco quer dizer que todas as pessoas que estão dentro do partido pensam exactamente da mesma maneira.

Os nossos pilares ideológicos são, aliás, quase antagónicos entre si. O liberalismo, o conservadorismo e a democracia cristã são aparentemente incompatíveis e, no fundo, reúnem exactamente pensamentos que são diversos, mas que se tentam colocar, e se calhar por uma razão histórica, há direita. Afastados de um bloco central que achamos ser cada vez mais igual.

No texto “Pilares Ideológicos da Juventude Popular“, conservadorismo é descrito como “hostilidade ou, pelo menos, reticência, relativamente às inovações políticas, económicas e sociais, cujas repercussões são ainda desconhecidas ou pouco experimentadas”. Como é que combinam essa ideia com a ligação ao mundo empresarial que é uma das imagens do CDS e que precisa cada vez mais de inovação?

Há que perceber que dentro do partido há uma grande diversidade. O conservadorismo não tem de ser entendido necessariamente como algo mau. Talvez num momento como este, com as circunstâncias em que vivemos, o conservadorismo possa ser uma coisa boa quando pensamos em mudanças bruscas, como a que o Governo quer fazer. Se calhar, se fosse o CDS ou, eventualmente, até o PSD, era apelidado de ultra-liberal e fascista. Em muitos casos há determinados direitos relacionados com os trabalhadores que são efectivamente atacados e houve muito pouco cuidado na forma como se pensou e redefiniu, por exemplo, este Orçamento de Estado.

É evidente que não podemos continuar como estamos. Temos de repensar o país e perceber que não temos suporte porque também não temos população para aguentar a estrutura que temos definida ao nível das entidades públicas e do sector governamental. Este conservadorismo, em algumas situações, e nomeadamente situações de crise, pode ser importante como factor estabilizador. É nessa medida que leio o conservadorismo no CDS.

Como é que a JP transmite estas ideias aos jovens? Como é que têm criado uma política de proximidade com a cidade e especialmente com a Universidade do Porto?

Há aqui várias dinâmicas e várias formas de actuar. Quando falamos de cidade do Porto podemos falar nos organismos de governo da cidade onde possamos estar representados. A JP, de uma forma global, tem feito algum contacto político e, se houve deputado e juventude partidária que chamou a atenção para o atraso na definição das bolsas de estudo, foi o nosso líder Michael Seufert. Nós sentimos dificuldade em conseguir lançar um comunicado ou uma tomada de posição num jornal nacional, mas se calhar já conseguimos ter mais facilidade em fazê-lo nas redes sociais, por exemplo.

“Temos de repensar o país”

Mas em relação às redes sociais, os sites da JP estão um bocadinho desactualizados e inclusive o Núcleo de Estudantes Populares da Universidade do Porto (NEPUP) está desactualizado desde 2005.

Temos estado a fazer muitas outras coisas para além disso, mas se for ao da distrital do Porto tem lá as acções todas. E temos estado muitíssimos virados para o nosso Facebook e até para a presença em associações de estudantes. A nossa aposta nos núcleos tem sido feita em meios mais dispersos como concelhos onde haja uma dispersão geográfica maior.

Mas um estudante que queira saber mais sobre a JP e que se depare com um site desactualizado, que supostamente era feito directamente para ele, pode encarar isso como desleixo.

Eu acho que esse estudante provavelmente fará primeiro uma pesquisa no Facebook e aí encontrará um contacto muito mais dinâmico do que propriamente no NEPUP. De facto, é uma falha. Talvez a concelhia do Porto não tenha sabido dinamizar essa área como dinamizou outras. Mas temos um papel de acção muito concreto, por exemplo, junto dos bairros sociais. De uma forma mais ou menos discreta, obriga a Câmara a fazer tomadas de posição. Um dos trabalhos que conseguimos fazer, por exemplo, é nas juntas de freguesia onde a política se faz de forma mais pura.

Tem conhecimento da crescente insegurança que se tem feito sentir no pólo da Asprela. Que medidas poderia a JP tomar, através dessa acção social, para controlar esta situação?

Evidentemente que há que compilar esforços. A junta de freguesia não tem poder para pedir à PSP para passar a patrulhar mais, mas se calhar a Câmara já o pode fazer, nomeadamente através da Polícia Municipal. Eu estudei na Faculdade de Economia (FEP), no pólo da Asprela, e esse é um problema recorrente que já vem de há muito tempo. A concentração de população jovem sempre foi, de alguma forma, um problema. Só em Engenharia falamos de cerca de 6000 estudantes e todo aquele movimento – principalmente porque há zonas muito mal iluminadas na envolvência de Engenharia – sempre foi um foco de problemas.

Nós temos tentado, nomeadamente na FEP, envolver a comunidade local. Claro que é muito mais difícil de controlar um grupo de jovens que se juntam num lugar qualquer e que vão lá fazer assaltos ou partir vidros. Aí já é uma questão de policiamento. O envolvimento é sempre a melhor solução que se aplica em muitos casos. E mais propriamente nesse. Esses focos acabam por acontecer mais à noite. O que a JP pode fazer é pedir um reforço ao nível de segurança e patrulhamento.