O Instituto Português de Oncologia do Porto (IPO) celebrou, terça-feira, 1500 transplantes de medula óssea desde 1989. Feita as contas são mais de 120 transplantes por ano, o que coloca o Serviço de Transplantação de Medula Óssea (STMO) do IPO do Porto no topo da Península Ibérica.

Em declarações ao JPN, a directora do Centro de Histocompatibilidade do Norte, Helena Alves, explica que este número “significa muito trabalho de equipa, um trabalho existencial, feito ao longo dos anos, e que salvou muitas vidas”.

No entanto, o grande ingrediente de sucesso para este número de transplantes reside no número de dadores. E Portugal, afirma a directora do CHN, assume “o segundo lugar a nível europeu”, sendo que “no ano passado só para o Centro de Histocompatibilidade do Norte foram recrutados metade dos dadores que neste momento estão inscritos em toda a Espanha”. No CHN houve “um crescimento da inscrição de mais de 30 mil dadores”.

A precisão da informação genética dos dadores tem facilitado o processo de transplante de medula, isto porque “começa a ser mais rápido transplantar os doentes e esses dadores começam a ser mais rapidamente encontrados”, ou seja, existe uma restrição do número de pesquisas, o que possibilita “resultados mais práticos”. Esta optimização da informação permite “focalizar muito mais a procura”, o que está a surtir efeito, uma vez que “está a haver mais dadores a serem dadores efectivos”, ressalva a responsável.

Os dadores do CHN têm assistido a um “crescimento para o tratamento a nível mundial”, pelo que, segundo Helena Alves, “o CHN já proporcionou 25 dádivas efectivas, das quais nove foram para Portugal, duas para os EUA, uma para o Canadá e as restantes para os países europeus”. De referir ainda que, neste primeiro trimestre, são já 17 as dádivas efectivas no Centro de Histocompatibilidade do Norte.

Serviço com mais de 20 anos

Durante todos estes anos “houve, sobretudo, uma evolução muito boa em termos de trabalho e de instalações, quer da parte do IPO, quer do Centro de Histocompatibilidade do Norte, que apoia todo o trabalho que o IPO faz do ponto de vista clínico, quer encontrando dadores, quer estudando as famílias e os doentes”.

Helena Alves fala de casos de “absoluto sucesso, onde os doentes se mantêm vivos e bem ao longo dos anos”. No entanto, “não é possível ter êxito em todos os casos”. Ainda assim, realça que “é muito bom ver famílias que passam pelo desespero de ter situações que não sabem como vão terminar encontrarem a paz”.

Constantino Oliveira, um homem de 54 anos, foi o primeiro doente a receber o transplante no IPO há 22 anos. Na altura, doenças como a Leucemia Mieloblástica Aguda, o Linfoma de Hodgkin ou a Leucemia Linfoblástica Aguda eram ainda consideradas como “doenças raras”. Mas a possibilidade de poder receber um transplante de Medula permitiu-lhe untrapassar a barreira de dois meses de vida que lhe era apontada pelos médicos.

O desenvolvimento de todo o processo de transplante de medula óssea implica um grande desgaste psicológico do doente e de todos os que o rodeiam. Mas, como salienta Helena Alves, “o ser humano tem uma capacidade de resistência enorme, de acomodação e de ser capaz de ter esperança e força para ultrapassar as dificuldades mais graves”. “As crianças tornam-se muito mais capazes de dar força às famílias”, salienta a responsável, desdramatizando os casos de doentes mais jovens.