Depois do despejo ocorrido ontem, quinta-feira, que colocou o país com os olhos na zona da Fontinha, o local encontrava-se calmo nesta manhã chuvosa. Apenas uma equipa de reportagem de televisão e alguns moradores rodeavam a escola ao final da manhã. No entanto, mantinha-se o policiamento, estando dois agentes a vigiar o local.

José Lino, morador que participava ativamente nas atividades da Es.Col.A, manifestou ao JPN o seu pesar pelos acontecimentos de ontem. Segundo o morador, os jovens da Es.Col.A são parte de uma geração com muitas capacidades, mas que apenas tem oportunidade de as demonstrar em projetos como este.

Este morador é um de muitos que se sentem revoltados e tristes com a decisão da Câmara Municipal do Porto (CMP). Apesar de alguns moradores estarem a favor do despejo, o sentimento geral da comunidade é que o projeto era uma mais valia para a zona e respetivos moradores, quer estes fossem participantes ativos ou não. Laura Castro apenas conhecia o movimento de “ouvir falar”, pois mora numa zona mais abaixo, mas todas as informações que lhe chegavam eram positivas, pelo que também está do lado da iniciativa.

José Lino afirma que, antes de ocupada pelo movimento, a Escola da Fontinha foi vandalizada e era usada por toxicodependentes e receia que esta volte a ficar ao abandono. Sobre se
os “ocupas” causavam alguma perturbação, o morador diz que era “normal” haver festas ou convívios um pouco mais barulhentos, mas salienta que o grande fator de preocupação era a toxicodependência que vigurava anteriormente na zona.

Renda de trinta euros é um “argumento falacioso”

Durante os incidentes de ontem, muitos dos equipamentos existentes no espaço da Es.Col.A da Fontinha foram destruídos ou levados. Diz um dos elementos do movimento, Marco, que “alguns foram para armazéns”, segundo informações da polícia, pelo que os voluntários não têm “esperança de os recuperar”.

Também três manifestantes foram detidos, tendo sido, ao que o JPN apurou, colocados em liberdade ontem à noite. “Eles estão na rua e hão-de estar”, garante Marco.

Em relação à renda de trinta euros que, segundo um comunicado, a Câmara Municipal do Porto teria proposto e a Es.Col.A se recusou a pagar, Marco afirma que este é “um argumento falacioso”, uma vez que esse valor “fazia parte de um contrato” que daria apenas mais três meses de autorização para permanecerem no espaço. “Aceitar esses trinta euros seria aceitar uma condição que nos ia despejar no fim de junho, um contrato que não seria renovado”, acrescenta.

Solidariedade online e nas ruas

Após uma cobertura massiva pelos orgãos de comunicação social e sites como o Tugaleaks,
Portugal Uncut e Artigo 21.º, e uma adesão aos apelos de manifestação que levou as pessoas ao Alto da Fontinha e à Câmara Municipal do Porto (CMP), continua hoje a onda de solidariedade, seja em artigos de opinião, vídeos que demonstram o apoio popular ou eventos que apelam à reunião de apoiantes.

Corre desde ontem uma petição dirigida ao presidente da CMP, Rui Rio, que afirma que “o Es.Col.A não será nunca despejado, porque não se pode despejar uma ideia”. No momento, a petição já ultrapassou os dois mil signatários. O Twitter, que ontem tinha a situação da Fontinha como um dos assuntos mais populares, continua a ser usado para divulgar mensagens de apoio.

A Es.Col.A vai ter a sua 46.ª assembleia hoje, às 18h30, no Largo da Fontinha.
O Portugal Uncut criou um evento no Facebook para que hoje e amanhã se faça uma concentração no Chiado ao final da tarde, para mostrar apoio à Es.Col.A. Já ontem marcharam em Lisboa apoiantes do movimento. O Artigo 21.º está também a promover manifestações de apoio hoje em Braga, Caldas da Rainha, Coimbra, Lisboa e Santarém, assim como uma ida à Assembleia, para quem está no Porto.