Aos 32 anos, Angélica voltou às cadeiras da faculdade para perseguir o bichinho artístico que traz dentro dela. Assim, atualmente conjuga o segundo ano da licenciatura em História da Arte, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, com o trabalho no laboratório, fruto da primeira licenciatura, em Microbiologia.

Mas a paixão pela arte – e pela fotografia em específico – não se ficou por aqui e deu origem ao “The Photocrossing” – um projeto da Angélica para o mundo. Como o nome deixa antever, a ideia baseia-se no conceito do “bookcrossing”, de troca de livros entre desconhecidos, mas aplicado às fotografias.

As origens


“A ideia do “The Photocrossing” surgiu-me muito naturalmente, já que tenho o hábito de oferecer as minhas fotografias a alguns amigos e também costumo receber de alguns deles fotografias como presente. A ideia é, podemos dizer, alargar este gesto de partilha a um grupo maior de amigos, uma comunidade unida pelo gosto pela fotografia”, conta Angélica Ramos, que diz ainda não conhecer “nenhum tipo de projeto do género”. “Vi, nas minhas pesquisas, um blogue que se chamava “Photocrossing” e distribuía fotografias por bancos de jardim, mas o projeto está agora parado”, conta. “Entretanto, acrescentei o pormenor do “The”, mas o nome era tão evidente, que decidi manter”, lembra.

Nos pontos em que as caixinhas do “The Photocrossing”, recheadas de imagens, estiverem presentes, basta levar uma fotografia, substituí-la por outra e partilhá-la na página de Facebook do projeto. Também há “um bloco em cada caixa, que funciona como uma espécie de livro de visitas”.

Até agora, há três “spots”, como lhes chama Angélica, na cidade do Porto: na Pensão Favorita, na White Box House e no Oporto Poets Hostel. Entretanto, vão surgindo mais, depois da fase de “experimentação”, mas o objetivo é chegar muito mais longe. Por isso, Angélica já levou este projeto até Lisboa e já há uma caixinha no Lisbon Poets Hostel.

Internacionalizar é “o que faz sentido”

A escolha dos locais não é ao acaso. “Estamos a colocá-las neste tipo de locais, por um lado pelo desejo de internacionalização que temos, por outro, para tentar responder a um turismo que é cada vez mais cultural”, explica a mentora. “Se em vez de uma recordação produzida em série o turista ou viajante que nos visita puder levar uma fotografia singular ou com poucos exemplares – e gratuitamente – pode ser uma ideia interessante”.

Esta ideia de internacionalização, de que Angélica fala, é a primeira razão do nome e do blogue em inglês. É que expandi-lo para o mundo é “o que faz sentido, neste tipo de projeto”, afirma.

A “marinar” há cerca de meio ano, o projeto ainda não chegou à fase de divulgação “a sério”, mas está calmamente a caminhar nesse sentido. Por isso, quem adere “tem aderido bem”, mas “ainda não ao ritmo que o projeto deseja”, conta Angélica Ramos. Ainda assim, garante, “as pessoas acham todas a ideia muito interessante”.

As fotografias, para já, são quase todas desta microbióloga artista e dos amigos, que ela “arrastou” para o projeto, mas hão-de ser de muito mais gente, em breve. Aí, a ideia vai querer também “mostraro trabalho de pessoas que gostam de fazer fotografia” e, quem sabe, dar origem “a uma primeira exposição com algumas das fotografias trocadas”.