Às 21h30 abriram-se as portas da sala de cinema do Rivoli para uma sessão muito especial: “Porto” é o primeiro filme comercial de grande distribuição rodado no Porto, em 2015, e também o primeiro com o apoio à produção da autarquia. Para apresentá-lo vimos subir ao palco figuras de quatro nacionalidades.

O realizador brasileiro Gabe Klinger fez-se acompanhar do produtor português Rodrigo Areias e de Lucie Lucas, a atriz francesa que dá vida a Mati, protagonista do filme. Envergonhado, o norte-americano Wyatt Garfield, diretor de fotografia, também foi convidado a levantar-se da cadeira para dizer umas palavras.

Lucie Lucas

Lucie Lucas Foto: Ana Marta Ferreira

Dois sentimentos foram transversais aos quatro discursos: o orgulho de um projeto terminado e a tristeza pela perda de um colega e amigo. O ator norte-americano Anton Yelchin, que no filme vive um romance intenso e fugaz com a personagem de Lucie Lucas, faleceu depois da rodagem do filme, num acidente em junho passado. “Ele ensinou-nos sobre cinema, sobre a vida. Foi uma pessoa honesta, sincera”, disse o realizador ao público da sala de cinema do Rivoli.

Klinger, de 34 anos, falou-nos de “Porto” num tom paternal. É o seu segundo filme e o primeiro de ficção – estreou-se com “Double Play”, um documentário sobre a amizade entre os realizadores Richard Linklater e James Benning. Sobre o “casting”, sob o olhar curioso de Lucie Lucas, que não percebia uma única palavra da entrevista que foi feita em português, o realizador falou em “sorte grande”. “A Lucie e o Anton deram-se muito bem em frente à câmara, foi um trabalho que partiu sobretudo deles”, declarou o realizador.

Depois de analisarem a fotografia, pedem para repetir. “Estamos tão tristes, Gabe. Vamos sorrir um pouco”. Lucie Lucas, estrela de televisão francesa, interpreta em “Porto” uma estudante de Arqueologia da Universidade do Porto, que se rende à sucessão de acasos e acaba por ter uma relação amorosa de uma noite com Jake, um americano que parecia estar sempre no seu caminho.

O filme segue com saltos temporais e viagens pelas memórias de Jake e Mati, a felicidade, a desilusão e o mistério em que se envolvem as duas personagens.

A cidade do Porto é, também ela, protagonista. O casal estrangeiro troca as primeiras palavras no Café Ceuta e passam a noite juntos num apartamento na Ribeira, de janelas sempre abertas para o Rio Douro. Toda a hora e 16 minutos de filme são familiares para quem conhece a cidade Invicta, com espaços a piscar o olho ao espetador portuense, como a Confeitaria Cunha ou o café Aduela.

A longa-metragem contou com produção executiva de Jim Jarmush e coprodução de Rodrigo Areias, que trabalhou de perto com a autarquia portuense para a rodagem do filme:

“Filmam-se muitos filmes no Porto. É uma cidade que está sempre disposta a ajudar. Só temos de agradecer à Câmara e a todos os envolvidos, porque não é possível fazer um filme sem cada um dos pequenos apoios, e o apoio da Câmara do Porto é muito mais do que o seu apoio financeiro”. Gabe Klinger concorda: “Sentimo-nos em casa aqui. Sentimos uma grande vontade dos portugueses em colaborar com este filme.”

Lucia Lucas, sorridente, mas de poucas palavras, reitera que é “um orgulho participar neste filme”. “Estou mesmo muito contente por estar no Porto”, frisou.

Além do Festival de Cinema de San Sebastián, onde estreou a 19 de setembro, o filme esteve presente no Festival de Zurique, no BFI London Film Festival, no Festival International du Film Independant de Bordeaux e no São Paulo International Film Festival. Desde que estreou, há quase dois meses, já foi vendido a 25 países. De acordo com informação da CMP, vai estrear “brevemente no circuito comercial”. Não foram, contudo, adiantados locais ou datas de exibição.

Questionado sobre a presença de Manoel de Oliveira nos agradecimentos da longa-metragem, Gabe Klinger respondeu que era “óbvio que tinha de colocar lá o seu nome”. “Não participou diretamente no filme, mas tive o prazer de conhecê-lo e os seus filmes são uma grande inspiração para mim. Os seus filmes sobre a cidade do Porto ajudaram-me muito a construir este filme. São um mapa-visual da cidade”, considerou o realizador.

Artigo editado por Filipa Silva