A sua mais recente criação pode ser vista a partir desta segunda-feira em algumas carruagens do metro. Já lá vamos. Antes importa recuar no tempo e espreitar o percurso daquele que foi considerado no ano passado um dos “instagrammers” mais criativos do mundo. Vive no Porto há seis anos, mas foi no Brasil que nasceu.

Formado em Comunicação Social, Wandson Lisboa desde cedo começou a sentir uma ligação à área artística. Admite que uma grande parte dessa ligação aconteceu por influência familiar.

Wandson cresceu num ambiente de muita liberdade, compreensão, apoio e criatividade. O próprio pai, químico de profissão, sempre revelou uma grande veia criativa. Juntamente com o tio, ator, fazia peças de teatro para a avó. Recorda-se ainda dos cenários de programas de televisão que desenhava num caderno para sobre eles brincar com os seus brinquedos.

“Sempre foi a ideia, eu nunca fui bom a executar as coisas e isso com o tempo foi melhorando.” Surgia uma ideia, criava um conceito, mas sempre que isso se materializava, o resultado não correspondia exatamente ao que pretendia.

Foi preciso o que Wandson denomina como “um processo de amadurecimento incrível”. Admite que o Instagram foi um grande impulsionador desse amadurecimento gráfico e visual, mas reforça: “O Instagram não é o meu trabalho, o Instagram é o potencializador do meu trabalho.”

Quando optou por estudar Comunicação Social no Centro Universitário do Maranhão, contou com o apoio familiar. Um curso abrangente, que lhe permitiu escolher a vertente de Direção de Arte. Após terminar a licenciatura, quis aprofundar os conhecimentos adquiridos no curso. Para isso, fez uma pós-graduação em Design Gráfico, também na sua terra natal, na Universidade Federal do Maranhão.

O ano de 2010 marca a mudança para Portugal e o início do mestrado em Design Gráfico e Projetos Editoriais, na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (FBAUP).

Esteve indeciso entre Porto e Lisboa. A decisão acabou por ser feita pela oferta formativa. Sentiu que o mestrado no Porto, por aliar design e projetos editoriais, conseguia potenciar a formação prévia que tinha recebido e adequava-se melhor aos seus objetivos.

Wandson Lisboa

Wandson Lisboa Foto: Ricardo Abreu - ITS Studio

Admite porém que há características do Porto que o cativaram. “Escolhi o Porto por ser uma cidade pequena e ao mesmo tempo ser grande. As pessoas daqui são incríveis. Mas não deixo de gostar de Lisboa, o meu nome tem Lisboa!”

Sente que o Porto o recebeu de braços abertos e, por isso, admite: “Eu sinto-me um pouco do Porto. Sinto que faço parte daqui. Toda a gente me abraçou e acreditou tanto em mim.”

Apesar de viver no Porto há seis anos, nunca perdeu a ligação à sua terra natal. Nem mesmo a ligação profissional. Wandson é freelancer em duas empresas, sediadas no Maranhão. “Se nada der certo, eu tenho sempre o meu refúgio, que é o meu trabalho no Brasil.”

O design do Porto em perspetiva

Quando o tema é o design que se desenvolve no Porto, Wandson não mostra qualquer hesitação: “O design no Porto é muito forte e é muito icónico”.

Como designer, sente que a própria cidade valoriza e fomenta a área. Neste aspeto, Wandson aponta o exemplo da criação da marca “Porto.” pela autarquia local.

O resultado desse envolvimento é, segundo Wandson, um design cada vez mais forte, que poderá resultar numa referência. “Aprendi muito aqui ao nível do design, acho que o Porto me fez bem em todos os sentidos.”

“O Porto é uma das maiores casas criativas de Portugal”, defende. Segundo Wandson, não é só o trabalho dos designers que se deve evidenciar. A verdade é que também os ilustradores têm uma forte presença no impacto visual da cidade.

Para Wandson, a grande mais-valia do Porto é o conjunto de pessoas que trabalham em virtude do estado de arte da cidade. Deste conjunto de artistas, destaca o trabalho de Mariana, a miserável, de Frederico Draw e de Miguel Januário.

Tendo em conta a variedade de artistas que a cidade acolhe, o Porto é uma cidade que tende a adaptar-se. “A tudo o que é bom, o Porto rapidamente se adapta”, defende Wandson, justificando que, apesar da amplitude de artistas, cada um encontra o seu lugar e um lugar para a sua arte na cidade.

Exemplo dessa adaptação é o trabalho de ilustração de Joana Estrela na criação do “Map for Crying Travellers”. Um mapa que reúne todos os melhores sítios no Porto para chorar.

No que diz respeito à formação, a experiência que Wandson teve na FBAUP leva-o a crer que há formação de qualidade na área do design no Porto.

Quando compara a formação que recebeu em Portugal com a que recebeu no Brasil, Wandson admite diferenças. “Enquanto o Brasil está muito preparado para a área comercial, o design na FBAUP é um design muito mais… pronto, é uma Faculdade de Belas Artes.”

“Tudo o que eu achava que sabia… Não sabia de nada. Tive de aprender o que era a arte, para depois saber o que é que era o design. Tive de me remodelar”, revela Wandson. Confessa também que a formação que recebeu na FBAUP foi fundamental para o seu crescimento profissional.

“O meu medo agora é que, como o Porto tem caminhado muito bem ao nível visual, as pessoas se acomodem e não invistam na inovação”, desabafa.

Wandson defende que a evolução visual tem de acontecer e que o design não pode estagnar. “Eu acho que está tudo muito parecido. As pessoas estão a ir pelo comodismo. Não quero generalizar, há pessoas a inovar.”

“O design é uma área difícil” e, por isso, o designer admite que este padrão que se está a criar possa ser resultado de uma tentativa de rentabilizar o trabalho desenvolvido.

“O design que eu aprendi é o design de pesquisa, o design de adaptação.” Por isso mesmo, Wandson defende que um designer deve sempre tentar antever como é que o comportamento da arte e do design vai evoluir a longo prazo.

“O planeamento é fundamental. É necessário fazer perguntas sobre o design. Não basta criar. É investigar. O design não acaba quando se começa a criar. O design é usabilidade, é adaptar-se àquilo que tu precisas”, sintetiza Wandson.

O que vem a seguir?

Sobre projetos futuros, Wandson não hesita em confidenciar que gostaria de reunir, num livro ou calendário, algumas das fotografias presentes no seu Intagram, juntamente com fotografias que nunca publicou. Um projeto sem data marcada, mas que tem carimbadas as palavras “em breve”.

Ainda esta segunda-feira, saiu cá para fora o resultado de uma colaboração com a Metro do Porto. Wandson elaborou uma imagem, que está já colada em algumas carruagens que circulam pela cidade. A imagem, que tem o formato de uma moldura, “é uma janela do que vem e do que vai. É o reflexo do dia-a-dia”, explica o artista. A fotografia é, em simultâneo, do utente e da cidade.

Para janeiro está ainda programada uma exposição de Wandson Lisboa no Maus Hábitos, mais precisamente por altura da quinta edição d“O Salgado Faz Anos… FEST!”, um evento anual que reúne concertos, DJ sets, exposições e animações numa só noite. A deste ano vai ser a 21 de janeiro de 2017.

Artigo editado por Filipa Silva