Eram ainda poucos os que, às 18h30, se juntavam na Praça Gomes Teixeira, no Porto. Foi uma das praças do Porto e Gaia de onde partiram marchas rumo à Praça do Infante, junto ao Palácio da Bolsa, o epicentro das comemorações do 11º aniversário da classificação do centro histórico do Porto como Património Mundial.

Frente à reitoria da Universidade do Porto (UP), a tuna da Escola Superior Artística do Porto animava as cerca de 30 pessoas que ali se juntaram. Distribuíam-se chapéus com o slogan “Eu ImPorto-me”, lanternas a 2,5 euros e autocolantes – as receitas vão servir para cobrir parte das despesas do movimento organizador, composto por 11 cidadãos.

Alguém ao telemóvel dizia “Estou na Baixa do Porto, na manifestação”. Não se tratava de uma manifestação (antes uma afirmação do orgulho de ser tripeiro, portuense e liberal, como sintetizou Carlos Magno, do movimento), mesmo que entre muitos dos que se acumulavam junto à Bolsa, pelas 20h00, para ver Rui Veloso, Pedro Abrunhosa e outros músicos, o tom fosse de protesto face ao estado do património.

“Eu, como nascida e criada cá [no centro histórico], fui uma das jovens que foi obrigada, ou convidada, a sair”, confessou ao JPN Isabel Penetra, trabalhadora da extinta Fundação para o Desenvolvimento da Zona Histórica do Porto.

Valeria Wimdl, brasileira a viver no Porto há sete anos, sublinhou a importância do Comissariado para a Renovação Urbana da Área de Ribeira/Barredo (CRUARB), entidade responsável pela recuperação e reabilitação do núcleo histórico entre 1974 e 2003, onde estagiou.

“Crime de lesa-património”

O CRUARB foi recordado por muitos cidadãos presentes na festa e por Álvaro Gomez-Ferrer Bayo, consultor da UNESCO na classificação.

Também Nuno Cardoso, ex-presidente da Câmara do Porto, criticou o “crime de lesa-património” que foi o “desmantelar” das estruturas que se ocupavam do núcleo histórico.

“Foi a falta de atenção, ao longo de seis anos [desde 2001], que levou ao ponto em que estamos. Estávamos no caminho correcto, tínhamos uma estrutura de profissionais (o CRUARB), tínhamos uma fundação para o centro histórico”, afirmou ao JPN o ex-presidente da câmara, Nuno Cardoso.

Apesar de estar concentrado na “energia positiva” dos festejos, o ex-autarca defendeu que até 2001 “a recuperação foi efectiva”. “O Bairro da Sé esteve quase recuperado”, exemplificou.