A hora avança e a noite também. Mas a jornada não pode acabar sem a visita à “Dona Fátima”. Próximo e último destino. De saia comprida e blusão preto, uma bandolete a segurar os cabelos e com uma saca de plástico com os comprimidos para a tensão, Fátima espera pela carrinha.

Com 80 anos (é, muito provavelmente, a mais antiga prostituta das ruas do Porto), responde às perguntas sobre a sua vida na rua como se de um passeio ao Porto se tratasse. Dá respostas curtas e vagas. “Dona Fátima”, como é tratada, mora em Paredes, mas vem quase todos os dias para o Porto na camioneta das 15 horas. “Venho dar um passeio e se puder ganhar algum ganho – a reforma é pequena”, explica.

Fátima começou a vir para o Porto aos 42 anos. Já não tinha marido. Embora ainda tenha os seus clientes certos, afirma que “nessa altura trabalhava-se mais, agora não”. Quer deixar a rua porque já não tem idade. Deixou a carrinha depois de ter guardado os preservativos na carteira. Não fala muito, mas fala sempre da mesma coisa: as tensões altas, a família e o café que tem que pagar no café de que o filho é proprietário.

Casos complicados

O projecto Vamp, bem como a Liga Portuguesa de Profilaxia Social, trata muitos casos complicados. “Utentes com depressões já graves, histórias de toxicodependência, histórias em que existem proxenetas, histórias de violência provocadas por esses proxenetas”, refere a psicóloga Sara Aguiar.

Ivo Figueiroa trabalha para a Liga há sete anos e faz também serviço de voluntariado no projecto Vamp. O caso mais grave com que encontrou foi o de uma utente brasileira sem documentos e estado grave de saúde. “Estava a degradar-se até um ponto que poderia culminar em morte. A Liga e eu fizemos o possível para cuidar dessa doente, mas não conseguimos, porque os hospitais portugueses não internam pessoas sem documentos”, diz o voluntário.

Edite Silva, secretária e uma das responsáveis do projecto Vamp, afirma que estão a preparar um dossiê com textos e imagens chocantes sobre o VIH e outras doenças sexualmente transmissíveis: Objectivo: provocar choque e reacção por parte das utentes.